sábado, 6 de outubro de 2012

Do buzano ao poço do isolamento: Breve histórico de Guriri


Guriri é, atualmente, o balneário mais badalado do verão, no norte do Espírito Santo. Porém, nem sempre foi assim. Antes de sua urbanização, todos os mateenses deslocavam-se até Conceição da Barra, para poder aproveitar o verão.
Imagem da Década de 60. Neste local está
localizada a ponte sobre o Rio Mariricu.

Segundo contam os mais antigos, os primeiros banhistas passaram a frequentar a praia de Guriri na década de 1950. Não havia estrada e a viagem era feita em canoas, pelos rios São Mateus e Mariricu, ou por um caminho muito difícil entre a s localidades de Pedra D' Água e Mariricu.

O prefeito Othovarino Duarte Santos iniciou a construção de uma estrada no final do seu primeiro mandato, em 1951. Como não havia recursos na época, a terra utilizada no aterro da estrada era retirada dos barrancos da Pedra D’Água e puxada por juntas de bois sobre pedaços de couro. A construção da estrada só foi concluída no seu segundo mandato, quando conseguiu uma pequena caçamba que carregava 4m³ de terra.
Construção da primeira ponte.

Também nessa época, Othovarino conseguiu concluir as obras da primeira ponte sobre o Rio Mariricu. Ela era toda de madeira, inclusive os pilares. Por isso teve a estrutura abalada pelo Buzano, uma espécie de molusco de corpo vermiforme, encontrado apenas em águas salobras. Ele se infiltra na madeira, corroendo-a, causando sua decomposição. Por isso essa ponte foi levada por uma das enchentes do Rio Cricaré. Posteriormente no ano de 1966, o Prefeito Otívio de Almeida Cunha deu a ordem de construção da segunda ponte. Aquela que utilizava-mos até o ano de 1998, que era toda de madeira, mas com os pilares de pedra. Pilares esses que ainda podem ser vistos por quem passa pela nova ponte.

Primeiras Barracas de Guriri. Ano e 1970.

Banhista em Guriri, década de 1970.
A povoação do balneário começou na década de 60. Foram construídas algumas pequenas casas e algumas barracas, que serviam de bares. Esses bares ficavam onde hoje em dia é instalado o palco no réveillon  Dizem que quando o prefeito Amocim Leite inicio o loteamento de Guriri, como conhecemos hoje, foi dada a ordem para retirada daquelas barracas, para que fosse formado os traçados atual Av. Oceano Atlântico. Alguns barraqueiros se recusaram a obedecer as ordem da administração municipal, que, em contra partida, cavou uma vala ao redor dos bares, isolando-os e os obrigando a se retirarem dali. Um desses bares era o Castanheiras, que tem esse nome pois havia um pé de castanha planto próximo (algumas pessoas dizem que era dentro) a ele. Dizem ainda que essa castanheira ficava  exatamente onde hoje está a rotatória em frente a pracinha de Guriri.

Pescadores em guriri. Década de 1970.

Por muitos anos, Guriri foi considerado zona rural, pertencente ao distrito de Nativo de Barra Nova. Atualmente, é um bairro que faz parte da zona urbana do município e pertence ao distrito da sede.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Quem foi Antônio Rodrigues da Cunha, Barão de Aimorés Barão de Aimorés?



Capixabas aventureiros havia muitos, no século XIX. E foram eles que abriram nas matas, a ferro e fogo, as picadas que se tornaram os caminhos e as estradas de hoje, ocupando os pontos menos conhecidos do nosso território e muitas vezes enfrentando a resistência de índios e a cobiça dos mineiros, nossos vizinhos.

Sim, foram muitos, mas poucos correram os riscos que Antonio Rodrigues da Cunha enfrentou desde a juventude, ao deixar para trás a vida confortável na cidade e, à frente de 100 escravos que recebera como herança, navegar pelo Rio São Mateus e desbravar a mata virgem, para construir sua grande fazenda, com barragem, usina de açúcar importada da Europa, o sobradão e uma ponte atravessando o rio.


 Barão de Aimorés

Tinha apenas 22 anos, quando abraçou esse formidável desafio. E, quando o açúcar brasileiro perdeu grande parte do valor que tinha no mercado europeu, esse homem empenhado em ampliar as fronteiras da civilização, abandonou tudo, atravessou o rio e incendiou os canaviais, para abrir caminho até o distrito mineiro de Peçanha, onde o receberam com festa e já com o título de “Major”.

Inquieto e movido por sua atração insuperável pelo desconhecido, Antonio deixou para trás a fazenda da Cachoeira do Cravo e, atravessando terras dominadas por indígenas, cuja língua sabia falar perfeitamente, demarcou a área, fundou nova fazenda e plantou café nos contrafortes de uma serra a 12 quilômetros ao sul de Nova Venécia: a Serra de Baixo, como é conhecida hoje.

Por seu espírito de justiça, punindo exemplarmente o homem que raptara uma índia, conquistou o apreço e o respeito dos indígenas. Chegou a plantar um milhão de pés de café, nessa terra onde o homem branco jamais havia pisado. E também abriu nova picada (ou “picadão”) na mata virgem, entre Nova Venécia e São Mateus.

Mas esse pioneiro da cafeicultura não parou por aí. Antes mesmo da abolição, deu alforria aos escravos e, para garantir o povoamento de Nova Venécia, trouxe da Itália 60 famílias de agricultores. A região até se tornou conhecida como “Barracão”, devido à construção erguida por ele para abrigar as famílias italianas, nos primeiros tempos.

Era um incansável, esse Antonio, que ainda corrigiu várias curvas do Rio São Mateus, para facilitar a passagem das imensas canoas que, na época, transportavam a produção agrícola.

Em reconhecimento a essa obra gigantesca e pensando que teria sua eterna gratidão, o Imperador Pedro II concedeu-lhe o título de Barão – honraria muito disputada pelos poderosos da época. Mas Antonio Rodrigues da Cunha era homem feito de outra têmpera: por pertencer ao partido político contrário ao de Pedro II, jamais assinou seu nome ao lado do título com que o Império o agraciou.

Tempos depois, ajudaria a eleger dois governadores – Graciano Neves e Constante Sodré – e até o seu falecimento, em 1893, com apenas 58 anos de idade, exerceu forte influência na política capixaba, sem jamais esperar por recompensa pessoal. Homens assim nunca dependeram de títulos e homenagens, para se consagrarem como heróicos civilizadores do Espírito Santo e do Brasil.

Texto retirado de: http://www.morrodomoreno.com.br

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Ata de encerramento das obras da Igreja Velha.


Esse é um trecho da ata da câmara dos vereadores, datada de 6 de agosto de 1843, que dá fim as obras da Igreja Matriz do Campo da Vila (a Igreja Velha). O Texto foi adaptado ao o português moderno. Por ter mais de 150 anos, possui linguagem carregada e de difícil leitura. Segue a baixo a ata:

24ª sessão em 6 de Agosto de 1843

Presidência do Senhor Cunha

As dez horas achando-se presentes os senhores vereadores Gomes da Cunha, Motta, Oliveira e Souza, faltando com participação os senhores Silvares Junior, Piniche e Farias e, por impedimento, o senhor vereador Matheus Antônio dos Santos, o senhor Presidente abriu a sessão.

Expediente
(...)

O Snr. Vereador Francisco Antônio da Mota solicitou que, achando-se comprados os materiais referentes à obra da Igreja Matriz, era de sua opinião que, ao invés de continuar as edificações da Igreja Matriz do Campo da Vila (Igreja Velha), se acabasse a Igreja Matriz da Praça de São Matheus, não só porque essa igreja existe no centro da cidade e oferece mais comodidade aos fiéis para os atos religiosos, como também essa igreja se encontra com a obra mais adiantada, e em poucos anos, com oito ou dez contos de réis se concluía, entretanto, a Igreja do Campo, segundo seu plano gigantesco, precisa para sua conclusão mais de 40 contos de réis e que as vistas dos rendimentos de 1%, se gastaria mais de cinquenta anos para sua conclusão. A câmara, tomando em consideração o dito requerimento deliberou que se examinasse o estado da obras e se precedesse ao seu orçamento para a finalização das obras da Matriz da Praça de São Matheus e que se enviasse um ofício ao governo da província pedindo permissão para esse ato. (...)

Igreja Velha na década de 1950

domingo, 30 de setembro de 2012

Zacimba Gaba, a princesa guerreira do Rio Cricaré


Há cerca de trezentos anos, o fazendeiro português José Trancoso arrematava, no Porto da Aldeia de São Matheus, na Capitania do Espírito Santo, com cerca de mais de uma dúzia de negros d’Angola, uma negrinha de feições finas e olhos esfumaçantes, sem imaginar, por certo, que estava levando para a sua fazenda – uma sesmaria de terras que ultrapassava o rio Mucuri, há umas seis léguas para o norte – a negrinha e que iria ser uma das precursoras nas lutas dos negros contra o regime de escravidão na região. O nome dela era Zacimba Gaba. Ela era princesa da nação africana de Cabinda, onde hoje fica o país Angola. Ao saber da estória de ter uma princesa em sua fazenda, o senhor resolveu chamar a mocinha. Ele a interrogou e proibiu sua saída da Casa Grande. 

Durante anos, a negrinha foi levada – por sua natureza rebelde – aos mais humilhantes e infames castigos, tendo sido surrada no Largo do Chafariz, no Porto, com outros escravos recapturados e rebeldes, provavelmente, por não aceitar, de bons modos, atender aos desejos do fazendeiro. 

Durante muitos dias e muitas noites os negros choravam ao ouvirem seus gritos, entrecortados pelos baques da chibata no corpo. Os outros escravos da fazenda, que também eram de Angola, passaram a tramar um plano para libertar a princesa, que era violentada pelo senhor constantemente.
Jararaca "preguiçosa".

Zacimba, ao longo dos anos, foi amadurecendo, e com seu sangue nobre passou a liderar um movimento de libertação dos negros da fazenda de José Trancoso. Por meses, os negros pegaram uma cobra, conhecida como “preguiçosa” (Bothrops jararaca), cortavam a cabeça, torravam e moíam tudo, transformando num pó muito fino, que era dado ao senhor na comida, em doses muito pequenas. Certo dia, as dores do senhor começaram e os negros aguardavam o momento certo para a liberdade. Quando Zé Trancoso passou a gritar de dor, os capangas descobriram que seu patrão tinha sido envenenado. Sabendo que os capangas matariam muitos escravos, até descobrirem a verdade, os negros invadiram a casa matando todos, só poupando a família do senhor.

Zacimba comandou a fuga de seu povo, da fazenda, e andaram pelas matas até Riacho Doce, depois de Itaúnas, lá formando um quilombo, lugar esse onde todos os negros eram livres e trabalhavam na terra, dividindo toda a produção como irmãos. Vários negros de outros quilombos, ou fugidos dos capangas dos outros senhores de escravos, se refugiavam no quilombo da princesa Zacimba. No entanto, a princesa não estava satisfeita. Ela sabia que o povo de sua terra estava sendo trazido, aos milhares, para ser escravizado no Brasil por brasileiros e portugueses, que achavam que o trabalho era humilhante e por isso tinham que escravizar os africanos, povo forte e guerreiro, que, infelizmente, não possuía as armas de fogo que os europeus possuíam. Foi aí que ela passou a atacar os navios que traziam escravos da África para o Brasil. Esses navios, que precisavam entrar no Cricaré para desembarcar, ficavam na costa esperando a maré aumentar para entrar no rio em direção ao Porto. Enquanto os navios esperavam na entrada do rio, a princesa Zacimba e seus guerreiros atacavam.

A princesa e outros guerreiros corajosos preparavam as canoas e esperavam anoitecer para o ataque mortal. Quando anoitecia, eles remavam na escuridão até chegarem aos navios negreiros. Os negros vinham trancados em porões, acorrentados, sem água e comida, nus e doentes. Muitos morriam na viagem e eram jogados no mar. Mas Zacimba tinha outros planos para os que chegavam vivos: a liberdade. Atacavam pelos lados, de surpresa, venciam as batalhas pegando os marinheiros desprevenidos, e libertavam os negros. Por dez anos libertaram centenas de negros. Os europeus já não ficavam perto do mar, pois temiam o ataque dos negros do quilombo do Riacho Doce.

A antiga princesa e escrava Zacimba Gaba cumpriu sua missão: ia onde a opressão, a injustiça, a covardia dos brasileiros e dos europeus estivesse. Para ela, o seu povo deveria continuar livre, e não, viver como escravo, como propriedade de outro, apanhando, comendo mal, vivendo em outro país, longe das esposas e maridos, longe dos filhos e, principalmente, sem liberdade. Zacimba morreu invadindo um navio, cumprindo sua missão e seu ideal, mostrando para todos os negros de hoje que eles devem lutar pela valorização da sua cor, pelos seus direitos e, principalmente, pela igualdade entre os homens.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Quem foram os primeiros mateenses?


Não há data precisa da chegada dos primeiros colonos, nem a indicação dos seus nomes, mas, pela tradição oral, os primeiros colonizadores portugueses chegaram a São Mateus por volta de 1544. Marco Antônio Dall’Orto cita no livro Rio Cricaré e a história cultural de seu povo, que o mais provável é que colonos fugidos dos frequentes ataques à Vila do Espírito Santo (Vila Velha) tenham vindo buscar refúgio na até então desabitada região norte da Capitania do Espírito Santo.
Padre José de Anchieta

A falta de informação sobre os primeiros anos da colonização faz com que muitos historiadores levantem hipóteses, nem sempre prováveis. Uma delas é que o povoamento de São Mateus poderia ter-se iniciado com a chegada de náufragos. Na história do Padre José de Anchieta lê-se que, ao passar pelo Rio São Mateus, em 1566, celebrou missa para alguns náufragos. Carece, no entanto, de documentação para tornar-se fato histórico.

Para o historiador Eduardo Durão Cunha, o mais provável era que os primeiros colonos devam ter vindo da vizinha Capitania de Porto Seguro, cujo donatário era Pedro do Campo Tourinho. Pode-se afirmar, no entanto, que a documentação histórica que registra a presença mais remota de portugueses na região é a que trata da Batalha do Cricaré, ocorrida em fins de janeiro de 1558. Outra é a narração epistolar de uma viagem e missão jesuítica do padre Fernão Cardin que veio à povoação do Rio São Mateus, em setembro de 1583.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Fim das balsas do Rio Cricaré


Até o inicio da década de 50, a única forma de transpor as águas do Cricaré era de balsa. Esse meio de transporte charmoso e rudimentar atuava levando automóveis do Porto a outra margem do rio, de onde partia-se por uma pequena estrada que tinha Conceição da Barra como destino. Ainda hoje, quem olha para os brejos em frente ao Porto ainda consegue observar a silhueta dessa antiga via. 
A travessia de balsa sobre o Cricaré.

Este cenário mudou quanto, por volta do ano de 1953, deu-se inicio à construção da ponte sobre o Rio Cricaré, que tem por nome Régis Bittencourt. Atualmente ela pode estar feia e meio abandonada, mas na época de sua construção foi um divisor de águas para a economia mateense. Era uma edificação grandiosa e ousada, uma obra bastante arrojada para a época. 

A construção, que como já foi dito, teve início no ano de 1953, foi finalizada no ano seguinte, 1954. Sua construção foi de responsabilidade da construtora Cia Rabelo Construtora LTDA. No dia do início de suas obras o Governador da época, Jones dos Santos Neves, pregou, simbolicamente, o primeiro prego da construção.

Detalhes da construção da Ponte.
Faziam parte da sua comitiva o diretor do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), Régis Bittencourt; o diretor do Departamento Estadual de Estradas de Rodagem (DER), Luiz Derenzi; o chefe da divisão de obras da secretaria estadual de agricultura, Dr. Hermes Curry; o prefeito municipal Zenor Pedrosa Rocha, dentre outros.

A partir do ano de 1962 foi integrada à BR-101, configurando-se no principal elo entre o extremo norte do estado do Espírito Santo e o sul da Bahia.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A capital nacional da farinha


Com as descobertas de grandes minas de ouro e pedras preciosas no interior do Espírito Santo (onde hoje é Minas Gerais), e a subseqüente elevação da Povoação do Rio são Mateus à categoria de Vila, foi proibido que pessoas do litoral navegassem em direção às Minas pelo Rio Cricaré, para evitar o contrabando de ouro e o ataque de piratas.

O Espírito Santo foi usado como barreira para defender as minas dos piratas estrangeiros e contrabandistas. Por isso, os governantes apoiaram a ida de pessoas para São Mateus e o desenvolvimento da agricultura na pequena vila. Assim, ao redor de São Mateus, a mandioca começou a ser produzida em grande quantidade. A produção da farinha de mandioca deu tão certo que ela se tornou famosa em todo o Brasil, passando a ser vendida para todas as regiões como a melhor e mais saborosa farinha brasileira. Os navios chegavam carregados de produtos trazidos de outras regiões do Brasil e de outros países, e partiam com os porões carregados de farinha de mandioca. A farinha de São Mateus foi muito usada na região de Minas Gerais, no Rio de Janeiro, Salvador e até exportada para outros países do mundo.
A chegada de um navio ao Porto era muito
aguardada por toda a população

A farinha de mandioca foi tão importante para São Mateus que, em determinada época em que todo o Espírito Santo passava por muitas dificuldades, somente um local permanecia em crescimento e conseguindo grandes lucros: São Mateus. Em 1828, a província do Espírito Santo arrecadou 195 contos de réis em impostos, dos quais 120 foram da farinha mateense.

Um relatório do ano de 1862, do Presidente Costa Pereira, informa que nessa época haviam 250 fábricas  de farinha em São Mateus e outras 240 em Conceição da Barra. Mesmo com a introdução de outras culturas na região, a mandioca continuou sendo a principal fonte de renda até o início do século XX. 

terça-feira, 25 de setembro de 2012

A Batalha do Cricaré


A Batalha do Cricaré constituiu-se em um dos mais sangrentos massacres a índios Tupis, promovido pelos portugueses. Ocorreu no século XVI, na região que hoje conhecemos como Meleiras, próximo ao encontro dos rios Cricaré e Mariricú.

O famoso padre jesuíta José de Anchieta escreveu sobre essa batalha alguns anos depois do grande acontecimento. Segundo ele, meses antes da famosa batalha, Vasco Fernandes Coutinho, donatário da Capitania do Espírito Santo, escreveu uma carta desesperada ao Governador Geral do Brasil, Mem de Sá, pedindo que este lhe enviasse navios e homens para enfrentar os índios, que já haviam destruído, novamente, quase toda a Vila Velha e a Vila de Vitória. Em 1558, Mem de Sá, então, enviou seis navios e mais de duzentos homens armados com arcabuzes (espingarda antiga), sob o comando de seu filho, Fernão de Sá. Eles partiram de Salvador, em direção à Vitória, para socorrer o donatário e seus colonos portugueses.

Antes, porém, pararam em Porto Seguro, para reabastecer e planejar melhor o ataque aos índios ao redor da Vila de Vitória. Foi lá que eles receberam a informação de que os índios estavam em grande número às margens do Rio Cricaré. Sabendo dessa informação valiosa, Fernão de Sá partiu imediatamente com seus homens. Chegando à foz do Cricaré, no dia 22 de maio de 1558, e entrou, com uma caravela, pelo rio, até onde o Rio Mariricu encontra-se com o Cricaré. Nesse local, a meio caminho de São Mateus, Fernão de Sá e seus homens puderam ver as fortificações dos índios. Os índios usavam para a guerra a tática dos mereriques, que eram uma espécie de fortaleza de palha e madeira.

Eram seis enormes muralhas circulares de toras, uma dentro da outra, que formavam um imenso forte. Os índios fizeram três desses fortes, interligados por grandes corredores protegidos. Eles, realmente, estavam preparados para a guerra contra os portugueses. Do navio, os portugueses chegaram, em pequenos barcos, às margens de areia fofa do rio. Em grande número, os portugueses conseguiram destruir o primeiro forte dos índios, que se reorganizaram nos outros dois que ainda restavam.

Os índios atacavam com centenas de flechas, matando muitos portugueses, e os portugueses atacavam com armas de fogo,matando muitos índios. Ao perceberem que as armas portuguesas estavam dificultando a vitória indígena, alguns índios foram enviados às tribos vizinhas para convocar mais guerreiros. Usando machados, os portugueses conseguiram destruir o segundo forte dos índios, fazendo com que estes lutassem mais bravamente pelo último forte.

A desvantagem tecnológica das armas dos índios era evidente. Mas a vantagem numérica deles era bem maior, e mais guerreiros indígenas chegavam a cada minuto para a grande batalha. Percebendo que vários soldados não possuíam mais pólvora e que a luta corporal entre os tacapes indígenas e as espadas portuguesas não conseguiria derrotar a imensidão de índios que chegavam a todo instante das florestas, Fernão de Sá ordenou que soldados fossem, nos pequenos barcos, ao navio, que esperava no meio do rio, para trazer mais munição. Assim, os índios, que estavam no único forte restante, passaram a ficar em grande vantagem contra os portugueses, já que a pólvora não chegava e os portugueses não eram tão numerosos como os índios.
Mem de Sá

Uma chuva de flechas cortava o céu em direção aos portugueses (que eram cada vez menos), na sua luta contra os índios (que eram cada vez mais). Com bravura, os índios foram derrotando todos os portugueses que restavam, e, com bravura maior ainda, os portugueses enfrentaram aquela situação desesperadora. Nos últimos instantes da batalha, Fernão de Sá tinha somente dez homens com ele para lutar. Percebendo a situação gravíssima, Fernão ordena que seus homens recuem, a nado, para o navio, que estava esperando no leito do Rio Cricaré. Com centenas de flechas sobre suas cabeças, Fernão de Sá foi atingido por várias flechas, e morreu. Somente três dos seus homens conseguiram escapar ao ataque final indígena.

Os sobreviventes que conseguiram chegar ao navio partiram, rapidamente, em busca da proteção do oceano, pois, assim, os índios não podiam alcançá-los. Passando pela foz do rio Cricaré, juntaram-se aos outros navios da frota e partiram, com extrema tristeza e ódio, rumo a Vitória, por terem perdido a batalha e o seu comandante. Junto do filho do governador morreram Manuel Álvares e Diego Álvares, filho de Diogo Álvares, o Caramuru.

Não sabe exatamente o que aconteceu com o corpo de Fernão de Sá. Sua morte foi notícia em toda a Europa, e o sentimento de vingança entre os portugueses, contra os índios, aumentou ainda mais. Por outro lado, os índios conseguiram uma importantíssima vitória contra seus inimigos portugueses, que estavam invadindo suas terras, matando e escravizando seus parentes mais amados. Essa grande batalha entre portugueses e índios aconteceu entre as atuais cidades de São Mateus e Conceição da Barra, em 1558.


Foi um marco na História da colonização portuguesa no Brasil e uma prova, para os portugueses daquela época, de que os nativos não eram tão inocentes e ignorantes como eles pensavam

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Barra Nova e o rio que corre ao contrário


Talvez não seja do conhecimento de todos, mas a barra do rio Mariricú, a qual chamamos de Barra Nova, tem esse nome por não ser de origem natural. Sua abertura ocorreu em decorrência da necessidade de uma nova rota para o Porto de São Mateus.

Existia nessa região, até poucos anos, um belo lago, que inundava toda a região pantanosa do Nativo e de Barra Seca. Seu nome era Lagoa da Suruaca. Vestígios de sua existência ainda podem ser vistos através do Google Earth. Essa lagoa era formada pela vazão do Rio Barra Seca, que transpassando o grande volume de água, continuava seu percurso, acompanhando o litoral, até desaguar no Rio Cricaré.
Detalhes da nova enseada: Barra Nova

O Comendador Reginaldo Gomes da Cunha, irmão do Barão dos Aymorés, sabendo que em determinado ponto esses rio se aproximava muito do litoral, teve a iniciativa de criar um pequeno canal ligando o rio ao mar, criando assim a nova barra. Dai surgiu o nome Barra Nova, devido à pequena Bahia que ali surgiu. Essa barra foi aberta em 1866, com a finalidade de, além de criar uma nova rota ao Porto, como já foi supracitado, dar vazão as águas da Lagoa da Suruaca. Vários c Nanais foram abertos ao longo de mais de 80 anos, esgotando quase que por completamente a lagoa.

Por essas iniciativas, o Rio Barra Seca, que anteriormente desaguava no Cricaré, passou a ter Barra Nova como foz, transformando o trecho entre a Nova Barra e o Rio São Mateus no que chamamos hoje de Rio Mariricú. Na verdade o ”novo rio” permanece sendo o Barra seca, porém, com as águas correndo ao contrário e desaguando em Barra Nova.

sábado, 22 de setembro de 2012

O município baiano do Espírito Santo


Poucos sabem, mas pelo período de 59 anos, São Mateus pertenceu a Bahia. Para ser mais exato, o povoado que havia sido fundado dentro das terras de Vasco Fernandes Coutinho, passou então a ser administrado pela Capitania de Porto Seguro, após sua elevação à categoria de vila.

Historicamente, São Mateus sempre foi uma referência, quer pela produção de farinha de mandioca ou pela sua vocação negreira, sempre realizando intenso comércio com Porto Seguro. Sabe-se que por volta do século XVIII, a coroa portuguesa possuía total informação de tudo o que ocorria na região do Rio Cricaré. O povoado, já próspero, alcançou maior status com o advento da minas de ouro na cabeceira do rio. Tal fato soou como atrativo nas demais regiões do Brasil Colônia, atraindo para nossa região toda a sorte de aventureiros, em especial os mineradores.

O Marquês de pombal de plenos poderes para
Thomé Couceiro de Abreu elevar o povoado
do Cricaré à categoria de Vila.
Nessa época a Capitania do Espírito Santo encontrava-se sendo administrada diretamente pela coroa portuguesa e havia a necessidade de delegar poderes a Povoação do Cricaré, afim de evitar que aventureiros subissem à cabeceira do rio atrás de ouro. Tendo isso em vista, Thomé Couceiro de Abreu, Ouvidor da Capitania de Porto Seguro, possuindo plenos poderes, concedidos Pelo Marquês de Pombal, elevou o povoado à categoria de vila, submetendo-o à sua capitania, dando o mesmo nome que José de Anchieta havia dado no século XVI: Villa de Sam Matheus.

O limite entre as capitanias de Porto Seguro e Espírito Santo que anteriormente era o Rio Mucuri, passou então a ser delimitado pelo Rio Cricaré. Esse fato ocorreu no ano de 1764, sendo que São Mateus ficou sob jurisdição “baiana” até 10 de abril de 1823, quando por portaria da Secretaria dos Negócios do Império a vila retornou ao Espírito Santo.


Projeto Cricaré


O Projeto Cricaré é uma idealização minha, vendo a necessidade de um meio de comunicação on-line onde possamos encontrar reunida toda a história, as lendas, os principais personagens de nosso município. Creio que em muitos momentos, a história até fugirá dos limites atuais de nossa cidade, visto que grande parte dos principais acontecimentos ocorreram em Nova Venécia, Conceição da Barra, Jaguaré, dentre outros na época ainda dentro dos contornos da Rainha do Cricaré. E por esses motivos, escolhei o nome "Projeto Cricaré", pois creio, e é fato, que nossa história abrange muito mais do que apenas nossa querida cidade.



Porto de São Mateus, a capa do nosso Projeto.