sábado, 6 de outubro de 2012

Do buzano ao poço do isolamento: Breve histórico de Guriri


Guriri é, atualmente, o balneário mais badalado do verão, no norte do Espírito Santo. Porém, nem sempre foi assim. Antes de sua urbanização, todos os mateenses deslocavam-se até Conceição da Barra, para poder aproveitar o verão.
Imagem da Década de 60. Neste local está
localizada a ponte sobre o Rio Mariricu.

Segundo contam os mais antigos, os primeiros banhistas passaram a frequentar a praia de Guriri na década de 1950. Não havia estrada e a viagem era feita em canoas, pelos rios São Mateus e Mariricu, ou por um caminho muito difícil entre a s localidades de Pedra D' Água e Mariricu.

O prefeito Othovarino Duarte Santos iniciou a construção de uma estrada no final do seu primeiro mandato, em 1951. Como não havia recursos na época, a terra utilizada no aterro da estrada era retirada dos barrancos da Pedra D’Água e puxada por juntas de bois sobre pedaços de couro. A construção da estrada só foi concluída no seu segundo mandato, quando conseguiu uma pequena caçamba que carregava 4m³ de terra.
Construção da primeira ponte.

Também nessa época, Othovarino conseguiu concluir as obras da primeira ponte sobre o Rio Mariricu. Ela era toda de madeira, inclusive os pilares. Por isso teve a estrutura abalada pelo Buzano, uma espécie de molusco de corpo vermiforme, encontrado apenas em águas salobras. Ele se infiltra na madeira, corroendo-a, causando sua decomposição. Por isso essa ponte foi levada por uma das enchentes do Rio Cricaré. Posteriormente no ano de 1966, o Prefeito Otívio de Almeida Cunha deu a ordem de construção da segunda ponte. Aquela que utilizava-mos até o ano de 1998, que era toda de madeira, mas com os pilares de pedra. Pilares esses que ainda podem ser vistos por quem passa pela nova ponte.

Primeiras Barracas de Guriri. Ano e 1970.

Banhista em Guriri, década de 1970.
A povoação do balneário começou na década de 60. Foram construídas algumas pequenas casas e algumas barracas, que serviam de bares. Esses bares ficavam onde hoje em dia é instalado o palco no réveillon  Dizem que quando o prefeito Amocim Leite inicio o loteamento de Guriri, como conhecemos hoje, foi dada a ordem para retirada daquelas barracas, para que fosse formado os traçados atual Av. Oceano Atlântico. Alguns barraqueiros se recusaram a obedecer as ordem da administração municipal, que, em contra partida, cavou uma vala ao redor dos bares, isolando-os e os obrigando a se retirarem dali. Um desses bares era o Castanheiras, que tem esse nome pois havia um pé de castanha planto próximo (algumas pessoas dizem que era dentro) a ele. Dizem ainda que essa castanheira ficava  exatamente onde hoje está a rotatória em frente a pracinha de Guriri.

Pescadores em guriri. Década de 1970.

Por muitos anos, Guriri foi considerado zona rural, pertencente ao distrito de Nativo de Barra Nova. Atualmente, é um bairro que faz parte da zona urbana do município e pertence ao distrito da sede.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Quem foi Antônio Rodrigues da Cunha, Barão de Aimorés Barão de Aimorés?



Capixabas aventureiros havia muitos, no século XIX. E foram eles que abriram nas matas, a ferro e fogo, as picadas que se tornaram os caminhos e as estradas de hoje, ocupando os pontos menos conhecidos do nosso território e muitas vezes enfrentando a resistência de índios e a cobiça dos mineiros, nossos vizinhos.

Sim, foram muitos, mas poucos correram os riscos que Antonio Rodrigues da Cunha enfrentou desde a juventude, ao deixar para trás a vida confortável na cidade e, à frente de 100 escravos que recebera como herança, navegar pelo Rio São Mateus e desbravar a mata virgem, para construir sua grande fazenda, com barragem, usina de açúcar importada da Europa, o sobradão e uma ponte atravessando o rio.


 Barão de Aimorés

Tinha apenas 22 anos, quando abraçou esse formidável desafio. E, quando o açúcar brasileiro perdeu grande parte do valor que tinha no mercado europeu, esse homem empenhado em ampliar as fronteiras da civilização, abandonou tudo, atravessou o rio e incendiou os canaviais, para abrir caminho até o distrito mineiro de Peçanha, onde o receberam com festa e já com o título de “Major”.

Inquieto e movido por sua atração insuperável pelo desconhecido, Antonio deixou para trás a fazenda da Cachoeira do Cravo e, atravessando terras dominadas por indígenas, cuja língua sabia falar perfeitamente, demarcou a área, fundou nova fazenda e plantou café nos contrafortes de uma serra a 12 quilômetros ao sul de Nova Venécia: a Serra de Baixo, como é conhecida hoje.

Por seu espírito de justiça, punindo exemplarmente o homem que raptara uma índia, conquistou o apreço e o respeito dos indígenas. Chegou a plantar um milhão de pés de café, nessa terra onde o homem branco jamais havia pisado. E também abriu nova picada (ou “picadão”) na mata virgem, entre Nova Venécia e São Mateus.

Mas esse pioneiro da cafeicultura não parou por aí. Antes mesmo da abolição, deu alforria aos escravos e, para garantir o povoamento de Nova Venécia, trouxe da Itália 60 famílias de agricultores. A região até se tornou conhecida como “Barracão”, devido à construção erguida por ele para abrigar as famílias italianas, nos primeiros tempos.

Era um incansável, esse Antonio, que ainda corrigiu várias curvas do Rio São Mateus, para facilitar a passagem das imensas canoas que, na época, transportavam a produção agrícola.

Em reconhecimento a essa obra gigantesca e pensando que teria sua eterna gratidão, o Imperador Pedro II concedeu-lhe o título de Barão – honraria muito disputada pelos poderosos da época. Mas Antonio Rodrigues da Cunha era homem feito de outra têmpera: por pertencer ao partido político contrário ao de Pedro II, jamais assinou seu nome ao lado do título com que o Império o agraciou.

Tempos depois, ajudaria a eleger dois governadores – Graciano Neves e Constante Sodré – e até o seu falecimento, em 1893, com apenas 58 anos de idade, exerceu forte influência na política capixaba, sem jamais esperar por recompensa pessoal. Homens assim nunca dependeram de títulos e homenagens, para se consagrarem como heróicos civilizadores do Espírito Santo e do Brasil.

Texto retirado de: http://www.morrodomoreno.com.br

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Ata de encerramento das obras da Igreja Velha.


Esse é um trecho da ata da câmara dos vereadores, datada de 6 de agosto de 1843, que dá fim as obras da Igreja Matriz do Campo da Vila (a Igreja Velha). O Texto foi adaptado ao o português moderno. Por ter mais de 150 anos, possui linguagem carregada e de difícil leitura. Segue a baixo a ata:

24ª sessão em 6 de Agosto de 1843

Presidência do Senhor Cunha

As dez horas achando-se presentes os senhores vereadores Gomes da Cunha, Motta, Oliveira e Souza, faltando com participação os senhores Silvares Junior, Piniche e Farias e, por impedimento, o senhor vereador Matheus Antônio dos Santos, o senhor Presidente abriu a sessão.

Expediente
(...)

O Snr. Vereador Francisco Antônio da Mota solicitou que, achando-se comprados os materiais referentes à obra da Igreja Matriz, era de sua opinião que, ao invés de continuar as edificações da Igreja Matriz do Campo da Vila (Igreja Velha), se acabasse a Igreja Matriz da Praça de São Matheus, não só porque essa igreja existe no centro da cidade e oferece mais comodidade aos fiéis para os atos religiosos, como também essa igreja se encontra com a obra mais adiantada, e em poucos anos, com oito ou dez contos de réis se concluía, entretanto, a Igreja do Campo, segundo seu plano gigantesco, precisa para sua conclusão mais de 40 contos de réis e que as vistas dos rendimentos de 1%, se gastaria mais de cinquenta anos para sua conclusão. A câmara, tomando em consideração o dito requerimento deliberou que se examinasse o estado da obras e se precedesse ao seu orçamento para a finalização das obras da Matriz da Praça de São Matheus e que se enviasse um ofício ao governo da província pedindo permissão para esse ato. (...)

Igreja Velha na década de 1950