terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Mofofô e a primeira lotação entre São Mateus e Colatina

Em 1948, Heitor Alencar, um madeireiro de Colatina, iniciou o transporte coletivo de passageiros entre Colatina e São Mateus, passando por São Gabriel da Palha e Nova Venécia, na época uma lotação (perua). No trajeto para Nova Venécia, passavam pelo córrego Sabiá de baixo, onde moravam as famílias Dalfior e Pedruzzi. Ali morava também o “Mofofô”.

Naquele tempo, eram três os responsáveis pelos serviços no veículo de transporte dos passageiros:
-  O motorista (“chofé”);
-  O trocador (também chamado “condutor”);
- O bagageiro (encarregado de acomodar as bagagens sobre o ônibus).

Mofofô era o homem das bagagens. Homem, ou quase homem. Baixinho, magrelo, feio. Tinha de nascença uns olhos que quase não se abriam. Parecia um china mal feito. Parecia um Mofofô, um gongolo sem olho que dá no pau podre. O pessoal gritava: “Abre os zói Mofofô!”. Usava óculos escuros pra disfarçar. No tempo das chuvas, era o primeiro a arregaçar as mangas da camisa e raspar o barro para desatolar o carro. Amigo de todo mundo, batia no teto da perua para que parasse e atendesse alguém à beira da estrada. Nem sempre era um passageiro, mas alguém encomendando um remédio ou querosene.

Muitos anos depois, foi encontrado pelas ruas de Colatina, vivendo modestamente, como sempre. Andava arrastando os pés, levantando sempre mais a cabeça para conseguir ver os objetos à sua frente. Passava devagar. Caminho que era a continuação de tantos outros percorridos no passado; ele ainda habita no cantinho da memória dos antigos moradores da linha pioneira; Mofofô é imortal.


A perua com Mofofô a esquerda.

OBS: Com a colaboração de Altair Malacarne.

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