Em 1948, Heitor Alencar, um
madeireiro de Colatina, iniciou o transporte coletivo de passageiros entre
Colatina e São Mateus, passando por São Gabriel da Palha e Nova Venécia, na
época uma lotação (perua). No trajeto para Nova Venécia, passavam pelo córrego
Sabiá de baixo, onde moravam as famílias Dalfior e Pedruzzi. Ali morava também
o “Mofofô”.
Naquele tempo, eram três os
responsáveis pelos serviços no veículo de transporte dos passageiros:
- O motorista (“chofé”);
- O trocador (também chamado “condutor”);
- O bagageiro (encarregado de acomodar as bagagens sobre o ônibus).
- O motorista (“chofé”);
- O trocador (também chamado “condutor”);
- O bagageiro (encarregado de acomodar as bagagens sobre o ônibus).
Mofofô era o homem das bagagens. Homem,
ou quase homem. Baixinho, magrelo, feio. Tinha de nascença uns olhos que quase
não se abriam. Parecia um china mal feito. Parecia um Mofofô, um gongolo sem
olho que dá no pau podre. O pessoal gritava: “Abre os zói Mofofô!”. Usava
óculos escuros pra disfarçar. No tempo das chuvas, era o primeiro a arregaçar
as mangas da camisa e raspar o barro para desatolar o carro.
Amigo de todo mundo, batia no teto da perua para
que parasse e atendesse alguém à beira da estrada. Nem sempre era um
passageiro, mas alguém encomendando um remédio ou querosene.
Muitos anos depois, foi encontrado
pelas ruas de Colatina, vivendo modestamente, como sempre. Andava arrastando os
pés, levantando sempre mais a cabeça para conseguir ver os objetos à sua
frente. Passava devagar. Caminho que era a continuação de tantos outros
percorridos no passado; ele ainda habita no cantinho da memória dos antigos
moradores da linha pioneira; Mofofô é imortal.
A perua com Mofofô a esquerda.
OBS: Com a colaboração de Altair Malacarne.
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